estava escuro

Estava escuro. E eu com a cabeça apoiada nos joelhos, ia rodando e rodando na minha cadeira amarela. A cadeira cada vez rodava com mais força e, a minha mão gélida tentava encontrar uma superfície a que me agarrar. Queria parar mas não conseguia. Era já noite e os fortes trovões que vinham acompanhados com a sua irritante chuva, assustavam-me. A luz ofuscante de cada um fazia-me tremer de medo. Estava sozinha e não me apetecia fazer nada de nada. Queria parar e agir de maneira normal para com tudo o que me rodeava, mas não me apetecia. O que mais queria no momento era ganhar asas e voar dali para longe, para um sitio mais fácil e sem essa chuva e trovões onde não tivesse que enfrentar tudo isto. Toda esta ausência, solidão e tormento.
Voar, fugir para um sítio onde não pudesse ficar assim, sem forças e calor.
Enquanto rodava e rodava cada vez com mais força, fazia questão de pensar em ti, de como tudo entre nós se passou num ápice, como estas voltas que dava na minha nova cadeira. É estranho e talvez aborrecido aproveitar cada momento de um dia assim, nostálgico, para fazer questão de pensar em ti, mas o facto é que não pára de acontecer. É cada vez mais inevitável pensar em ti, melhor, em todos os nossos momentos, apesar de serem poucos, para mim significaram muito. Todos os olhares, todos os beijos, abraços e gargalhadas que trocamos, que agora são apenas momentos que restam ser recordados, deixam-me assim num dia como este, triste e fraca.
Tudo isto por já não te ter. Por já não poder voltar a agarrar toda a tua carne, sentir a tua cara próxima da minha, por já não poder cheirar o teu perfume, tocar em todos os teus cabelos longos, por já não poder ouvir o teu riso, por já não sentir os teus beijos, por já não te ter...
E é tudo uma questão de já não te ter, de já não estares aqui comigo, para me fazer rir, para me aquecer e me acompanhar num dia como este

facto I

E teimas em lá aparecer.
Em todos os meus sonhos.
O que é que nos unia? O que é que nos fazia permanecer juntos e intactos a todas as objecções que teimavam em permanecer á nossa volta?
Éramos, somos tão diferentes. O que é que nos unia? Sabes?
Encho-me de perguntas, às quais não encontro uma boa resposta, uma resposta que me faça esquecer o assunto e arranjar outro que ocupe os meus tempos livres.
Agora tenho esta a vadiar na minha cabeça. O que é que realmente nos unia?
É triste ter que dizer unia e não une. É sempre triste quando tenho que usar o passado para nos descrever, a nós, a nossa relação.
É isso, apenas passado. Não gosto.
Estou triste a pensar nisto. Tu sabes, será que sabes o que quero dizer com isto tudo? Com este palavreado todo? Sabes?
Se sabes diz-me…