ela a imaginar

Era sempre a mesma coisa todas as noites, adormecia virada para a parede na sua cama. Breves minutos mais tarde virava-se para o outro lado, o lado da porta e então olhava a porta com esperanças que ele voltasse a tempo de a amarrar e apertar. Nos últimos dias tem acontecido sempre o mesmo, faz o jantar e espera que ele venha. Arruma a cozinha. Senta-se no sofá à espera que ele venha. Vai dormir. Tenta adormecer mas não adormece porque a vontade de o ter é muita. Mas o pior é que já não se falam há meses, mas a verdade é que ele nunca lhe devolveu as chaves de casa. Então ela fica a imaginar ele a ter vontade dela e a abrir a porta de casa dela e entrar pelo quarto dela. Mas isso é só ela a imaginar e a ver se adormece.
ela jamais acreditou, mas diz que tem saudades de se rir com ele.

boa noite

Às nove da noite já tem sono, perguntam-lhe se quer sair mas diz sempre que não pode. A mãe não deixa. Está a chover. Amanhã tem que acordar cedo.
Vai para a cama. Ouve música mas os ouvidos estão cansados, desliga o rádio. Tenta ler e lê, duas páginas e fecha o livro.
Há um lado positivo nesta inércia e neste tédio todo. Acaba por adormecer rápido e o dia acaba e outro começa logo. E como tem facilidade em dormir não pensa em assuntos que lhe apertam o coração e desgastam a alma.
Boa noite.

nada a acrescentar

"Sooner or later in life, the things you love you lose"