"Se eu for o primeiro de nós dois a morrer,
Que o desgosto não ensombre muito tempo o céu.
Sê ousada, mas modesta no teu luto.
Há uma mudança, mas não um abandono.
Pois tal como a morte faz parte da vida,
Os mortos vivem para sempre nos vivos.
Aquilo que éramos, continuamos a ser,
Aquilo que tínhamos, continuamos a ter,
Um passado conjunto, imperecível no presente.
Por isso, quando caminhares pelos bosques onde outrora caminhámos,
E procurares em vão a minha sombra na margem sombria, a teu lado,
Ou parares onde sempre parávamos no monte, para olhar à nossa volta,
E ao avistares qualquer coisa, tentares dar-me a mão, pela força do hábito,
E, ao não encontrá-la, te sentires dominada pelo desgosto,
Pára, fecha os olhos, respira fundo.
Escuta os meus passos no teu coração.
Eu não me fui embora; só estou a caminhar dentro de ti."




in, «The Smoke Jumper»

ainda não

Ainda não, agora limito-me a ler ou a adormecer. Fecho os olhos com muita força e até me doem. Parece que as bolas negras de cada olho giram numa velocidade exorbitante e até dói. Limito-me a fechar os olhos e acabo por me manter acordada. É sempre assim. - Ou então as minhas orelhas movem-se a cada instante com os sons da casa, da rua, lá de fora ou cá de dentro. Ouço e assusto-me. - Ando feita vagabunda pelos corredores escuros. Descalça para não acordar ninguém e a apalpar todos os móveis para não tropeçar. Os meus pés já estão sujos e gastos. Assim como as minhas memórias. - Vejo a gata em cima do forno. Ainda não dorme. Está comigo. Os carros não param e isso enerva-me. As suas luzes até penetram a minha janela, ofuscam-me a vista e ainda desperto mais. aiiiiiiiiiiii
Ainda não, ainda não adormeci. Limito-me a escrever mal por linhas tortas. A ler o que os outros dizem, e bem! Ou a adormecer, até ficar consumida pelos meus sonhos.