Ontem adormeci a ver-te dormir.

Ontem adormeci a ver-te dormir. Estavas de tronco nu, deitado de barriga para baixo e dormias tão profundamente que fiz de tudo para não te acordar. Por momentos consegui ver-te calmo, suave e a sonhar. Estavas tão diferente do dia-a-dia, aquele teu quotidiano agitado e frenético, onde te exaltas por tudo e por nada e berras palavras que doem ao ouvir sempre que te zangas com alguém. Gostei de te ver assim. Observei-te pelo menos durante vinte minutos e soube mesmo bem!
Subitamente deu-me vontade de um último cigarro. Enquanto procurava o isqueiro para o acender, mexeste-te. Disseste palavras que não entendi e sons que não captei. Mexeste-te bruscamente e saltei com a agitação toda, e enquanto expelia o fumo do cigarro pela boca, disses-te o meu nome…
Fiquei sem perceber se ao entrar no teu sonho, o tornaria bom ou mau. Se estavas a discutir comigo ou a dizer que me amavas… não percebi. Adorava que me dissesses que me amas, quase que não o dizes, não sei se és tímido ou se trancas os sentimentos a sete chaves no teu duro coração.
Apaguei o meu cigarro e abanei as mãos em meu redor para que o fumo se alastrasse e não ficasse acumulado no quarto. Deitei-me ao teu lado e beijei a tua solene cara, apetecia-me agarrar-te dizer muito alto que te amo e que adoro estar contigo, mas apenas te beijei levemente a testa e adormeci a olhar para ti…

Hoje voltei a sonhar contigo...


Desta vez pareceu tão real! Sonhei que voltara a ser da mesma turma que tu, sonhei que estava perto de ti e que sentia apenas o teu cheiro e que apreciava o tecido do teu casaco, era áspero e preto. Nesse mesmo sonho não conseguia ver a tua cara, estavas de costas, mas mesmo assim o meu coração palpitava tanto, só por te poder ver nem que de costas fosse, que até temia que alguém o pudesse ouvir bater! Acordei numa mistura de emoções, estava agitada mas também contente, pensei que fosse mesmo verdade, mas depois de ver que estava apenas a sonhar, o meu coração parecia partir-se em cada bocadinho cada vez mais pequenino sempre que olhava em meu redor e via que estava apenas numa solarenga manhã no meu quarto, senti uma desilusão tão grande por ver que nada que tinha sonhado fazia parte da realidade, da dura realidade. Não sabes o quão difícil é acordar todas as manhãs e não ter motivação para passar o lápis preto nos olhos, não ter razão para vestir a roupa que mais gostamos, nem conseguir dar alegria a um dia cinzento e chuvoso, só por sentir tanto a tua falta. Não sei se contigo se passa o mesmo. Sem ti é tão difícil viver…, não vou dizer que não sei viver sem ti porque iria ser mentira, pois tenho mesmo que viver sem ti, não tenho outra alternativa. Separamo-nos e agora cada minuto que passa, sem te ver, parece que o meu corpo desfalece e perde a noção de como se arranja forças para ser feliz novamente. Não sei o que se passa comigo, sonho contigo sempre que fecho os olhos. Sempre que vejo algo que me lembre a tua suave cara, imagino-te a olhar para mim ou então, isolo-me de tudo que está a minha volta e retrocedo na minha tenra adolescência e recordo todos os momentos que passamos juntos, todas as visitas de estudo ou quase todas em que me abraçavas ou me davas a mão, oh isso sabia tão bem, sentia que por uns minutos eras meu e de mais ninguém, mas depois quando saíamos da camioneta lá ias tu, o super engatatão fazer o que me acabara de fazer a mim a outra rapariga. Aí sim, o meu corpo desabava e o dia por mais cinzento que fosse, tornava-se ainda mais negro e o que apenas me apetecia fazer era desatar a chorar e cair no chão e nunca mais me levantar!