não, eu não te pagava da minha memória

Dream brother, my killer, my lover,


eu olho para trás e vejo-te, de cara desfocada e deslavada, a desvanecer a cada dia que passa, mas não, não meu amor, eu não te apagava da minha memória, não fosse eu quem sou (...)



sala de ensaio

“Estás debaixo da pele”
Desculpa
És uma gota que vai secando
Uma lágrima que evapora
Andas no ar
E cais por aí
Andas por aí
Cais como pó pelos móveis
Pelos livros em branco
Que me parecem brancos
Pelas molduras vazias
Pela televisão apagada
Pelos copos vazios
Cais por aí
Andas, constantemente, por aí
E não há nem vassoura nem pano que te limpe
Dou por mim a reflectir sobre paradoxos
A falar em paradoxos
Leio e desleio
Como se existisse
Como se houvesse algo
És apenas aquilo que já não há
Que já nem existe
Mas continuas a ser o pó nas revistas
Nas canetas e nos pratos que em tempos usavas
Nas gavetas outrora desarrumadas
No lado direito da cama ainda permanece a forma do teu corpo
Ainda está lá a tua almofada com a nódoa que não quero tirar
O teu pijama sujo e usado pelo armário
Ainda
Ainda
(∞)
Não me vás. Fica.
Por favor
Deixa a mala aqui
Não arrumes as tuas coisas
Convida-me
Conta
Não te rias daquilo que não sei
Bom dia
Amo-te