ela a imaginar

Era sempre a mesma coisa todas as noites, adormecia virada para a parede na sua cama. Breves minutos mais tarde virava-se para o outro lado, o lado da porta e então olhava a porta com esperanças que ele voltasse a tempo de a amarrar e apertar. Nos últimos dias tem acontecido sempre o mesmo, faz o jantar e espera que ele venha. Arruma a cozinha. Senta-se no sofá à espera que ele venha. Vai dormir. Tenta adormecer mas não adormece porque a vontade de o ter é muita. Mas o pior é que já não se falam há meses, mas a verdade é que ele nunca lhe devolveu as chaves de casa. Então ela fica a imaginar ele a ter vontade dela e a abrir a porta de casa dela e entrar pelo quarto dela. Mas isso é só ela a imaginar e a ver se adormece.

2 comentários:

Daniela Morgado disse...

é meso estranho ler isto e pensar que poderia ser eu escrevê-lo x)

mais uma vez gostei do teu cantinho*

Mafalda Sofia Gomes disse...

nos dias tristes não se fala de aves
liga-se aos amigos e eles não estão
e depois pede-se lume na rua
como quem pede um coração
novinho em folha.

nos dias tristes é inverno
e anda-se ao frio de cigarro na mão
a queimar o vento
e diz-se bom dia!
às pessoas que passam
depois de já terem passado
e de não termos reparado nisso

nos dias tristes fala-se sozinho
e há sempre uma ave que pousa
no cimo das coisas
em vez de nos pousar no coração
e não fala connosco.


filipa leal