Que bonito dia se pôs, disse ela ironicamente
Já houve chuva e sol e nuvens e céu limpo
Já tinha chorado amargamente
Já tinha rido compulsivamente
Já tinha dançado e cantado
E agora o dia acabava, pouco a pouco
E ela sabia isto porque via o sol a pôr-se
Por detrás das árvores e das casas amarelas que tinha à sua frente
Era como se fosse um dia desperdiçado
Onde ela não tinha feito nada de jeito
Nem tinha dito nada de bom, nem tinha visto nada de bom
Nem tinha feito nada de bom, nem tinha comido nada de bom
Nem tinha observado aquele rosto
Não era preciso porque ela sabia todos os seus traços de cor
Mas chegar a casa e aperceber-se que naquele dia não tinha apreciado aquele rosto
Ela ficava com raiva e com pena de o dia estar a acabar
Antes pudesse trazer o rosto comigo para casa, pensou ela
E o dia acabava, lentamente
Ela suspirou, esqueceu o dia que acabava naquele preciso momento
E desejou
Sol põe-te depressa para que possas nascer rapidamente amanhã
Para que eu volte a ver o rosto que hoje me esqueci de ver
E fechou os olhos com muita força
Mordeu a língua
E cruzou os dedos
Como se pedisse um favor a alguém

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