o amor doente

pareciam duas pessoas avariadas. sim avariadas, como se tivessem no meio do peito um post-it a dizer "avariado". ela sabia que não podia mexer nele porque alguma peça podia quebrar. ele não podia tocar nela porque estava demasiado fraco devido à sua quase irreparavel avaria.
mas é claro que ela mexeu onde não devia mexer e ele tocou nela. o papel a avisar do grande estrago caiu e durante algum tempo as duas pessoas pareciam menos avariadas. riam muito uma com a outra, estavam juntas e só estavam bem quando estavam juntas, riam muito uma da outra e falavam muito.
mas é claro que o tempo sem avarias acabou. depressa várias peças do corpo cairam com o tempo, as palavras secaram das suas bocas e já não se riam tanto. e depois as duas pessoas lembravam-se das suas deficiencias e ficavam tristes por saberem que ainda não estavam curadas. não foi tempo perdido, foi tempo que ainda veio estragar mais as duas pessoas.
estragou mais, porque agora tinham a caixinha de dentro do peito dorida. magoada. doía só de pensar nas avarias, doía só de olhar para pessoas avariadas e então deixaram de se falar e o tempo passou. agora é verão e ele vai à praia com ou sem avaria e ela vai ver a amiga tocar violino e quer aprender a tocar piano, mas para já fica em casa a ouvir música.

2 comentários:

Mafalda Sofia Gomes disse...

uma nova chaga para te enfeitar corpo.

VENTO disse...

Isto é o que acontece quando não se repara o aparelho na primeira avaria.